*Escrito em 26/02/2015.
Eu tinha uma
música para você.
Na verdade,
eu tinha uma coletânea inteira. Dos hits para dançar até as mais lentas para
usar como desculpa para chegar cada vez mais perto de você. Colocando
sutilmente as minhas mãos ao redor da sua cintura, deixando o ritmo nos levar
por si só.
Eu soube de
um café no centro da cidade que iríamos conhecer juntos. Sempre passo por lá,
mas nunca entrei para experimentar. Achei que fosse justo a sua cara:
reconfortante, acolhedor, clássico. Parecia um lugar especial para chamar de
nosso.
Na minha
cabeça ensaiei o que diria aos seus pais quando os conhecesse pela primeira
vez. Porque você sempre me dizia o quanto eles significavam o mundo para você,
e tudo o que eu queria era fazer parte disso.
Nas minhas
andanças pela cidade que fiz ainda sem segurar a sua mão, vários outros planos
me vinham à mente; como aquela pequena adega onde eu encontrei o melhor Pinot Noir que já havia provado, e
pensei no quanto ele seria perfeito para uma das nossas noites preguiçosas de
inverno em casa, com as janelas fechadas e embaçadas e os cobertores quentes e
irresistíveis. Você iria escolher o filme; eu tentaria fazer a pipoca. E quando
percebesse que o cheiro de queimado da panela estivesse passando dos limites,
iria achar graça de mim e deixaria isso pra lá. Afinal, nós acabamos de jantar.
“Deixe o vinho respirar...”, você
diria. Dando a entender que estava mais afim de que perdêssemos o fôlego
juntos.
Outro dia
passei em frente àquela floricultura a caminho de casa e resolvi entrar. E pedi
por tulipas brancas, que você sempre deu pequenas “indiretas” sobre serem as suas favoritas. Seria uma surpresa legal
chegar em casa com elas assim, sem motivo. “Que
dia é hoje? Pra que isso?”, você perguntaria sem entender. Você era como
eu; sempre questionando um gesto de carinho antes de aceitá-lo. Não estava
acostumada a receber carinho, muito menos sem justificativa. E ainda levariam
anos para que você se permitisse acreditar no que eu responderia: “Porque você merece.”
Eu admito
que quando seus amigos sugeriram que nos encontrássemos naquele lugar, eu não
estava totalmente de acordo. Mas primeiras impressões são importantes, e você
queria tanto que eu os conhecesse – ainda mais, depois de ter se dado tão bem
com os meus que, depois de poucos minutos, pareciam estar conversando como se
fossem da mesma turma há anos. Tudo bem, deixe eles escolherem o lugar. Só
continue segurando a minha mão.
Mas quando
tivemos aquela mesma briga sem sentido pela milésima vez, o silêncio tomou o
lugar das risadas. A distância preencheu o que costumava ser intimidade. E
quando eu percebi o seu olhar distante, melancólico – quase trágico para quem
soube um dia o quanto você era feliz – eu tive que perguntar:
“O que mudou?”
“Ausência.”
Talvez eu
não fosse o bastante. O que te faltava, eu não sei. Mas você não era mais
minha. Você não iria voltar, e eu provavelmente nunca entenderia o porquê. Você
precisava de mais; talvez de outro cara, talvez do mundo. E talvez nada disso
ainda deixaria você satisfeita. E talvez você nunca tenha sido minha. E os meus
apelos, os meus carinhos, as minhas constantes tentativas de provar que nós
deveríamos ficar juntos, foram as maiores provas das nossas inseguranças.
Porque você e eu sabíamos, lá no fundo, que você não iria ficar. Ou, que não
queria ficar.
Éramos dois
seres faltantes em constante negação. Você queria mais do que tudo; eu queria
sentir que o que tínhamos era o bastante. Faltou limite. Sobrou saudade. E seja
lá o que procuramos, que nem sabemos descrever ou nomear, talvez não encontraremos
juntos.
Obrigado por
tudo. “Eu desisto.”
E de todas
os ritmos e melodias, esta não era uma música que eu havia guardado para você.